Projeto III - A Balada de Taloriel

Taloriel terminou de recitar as últimas palavras do encantamento e abriu os olhos. Instantaneamente ele pôde sentir o laço mágico que o ligava à sua arma ficando rapidamente mais forte, assim como sentia o ar da manhã preenchendo seus pulmões com os cheiros da floresta. O jovem respirou fundo por uma segunda vez, e deixou que seus sentidos aguçados de eladrin trabalhassem um pouco mais. Com sua audição aguçada ele pôde ouvir barulhos de um acampamento sendo desmontado, à pouco mais de 50 metros de distância em direção ao norte. Por uma terceira vez ele respirou fundo e resou uma pequena prece ao Deus das Caçadas, para que aquele fosse o grupo de bugbears que ele estivera procurando durante toda a semana.

Ele sentiu a armadura de couro apertar, enquanto ele tentava ao máximo se manter em silêncio, para se aproximar do acampamento sem ser notado. A arte de se locomover sem chamar a atenção não era uma especialidade que ele precisasse dominar em seus dias de guarda real, e agora ele sentia a falta de um treinamento mais furtivo. Durante toda a sua vida, Taloriel foi treinado por diversos mestres para se tornar o guardião pessoal da princesa Pâmora. Quando completou quinze anos e teve seu treinamento completado, lhe foi entregue Kmertz, a espada forjada com sangue de fada e metal retirado das escamas de um dragão. A mesma arma que carrega até hoje, que aprendeu a criar uma conexão mágica, de onde retira energia para a execução de magia e poderes que já acabaram com a vida de diversos inimigos. Mas que não foi o suficiente para proteger a princesa Pâmora naquela tarde de outono...

Taloriel se aproximou o máximo que sentia ser seguro do acampamento, sem despertar a atenção dos bugbears. Escondido entre os arbustos altos e a sombras de árvores densas e pouco espaçadas entre si, ele agradeceu por estar usando um manto de camuflagem por sobre as roupas de cores azul e dourada, que não só o exporia aos bugbears mais facilmente, como o identificaria como um servo da corte de Lamar. Da distância que ele estava agora, o acampamento era visível e identificável facilmente. Somente três cabanas, sendo que uma maior e mais adornada com certeza seria do lider do grupo. Das outras duas, ele pode verificar com o tempo, uma parecia servir de dormitório para dois outros bugbears, e a terceira ele só podia cogitar entre uma emprovisada sala de tesouros, ou uma rústica prisão. Do pouco que havia aprendido da linguagem falada pelos bugbears nos últimos meses, ele só pôde destacar algumas palavras como grande garra, acordo, entrega e prisioneiros. Prisioneiros, porém, era a palavra que ele esperava ouvir. Ele não conseguiu conter um leve sorriso em seus lábios, ao ver um dos bugbears sair da tenda maior com um jovem humano vestindo roupas sacerdotais, tão ensanguentadas que não o possibilitaram identificar à qual divindade o rapaz servia. O rosto extremamente machucado denunciava que o sangue pertencera ao próprio humano.

Porém, foi quando ele viu o segundo bugbear arrastando o corpo sem vida de uma jovem meia-elfa até o meio do acampamento, que seus pensamentos voaram para alguns anos atrás, quando ele e a princesa Pâmora estavam caminhando por um dos bosques no extremo da divisa oeste do reino de Lamar. Apesar de ter sido treinado para fazer parte da guarda pessoal da princesa, os jovens se apaixonaram no momento em que lhes foram apresentados um ao outro. Gozando de seus privilégios como única princesa, e herdeira do trono, Pâmdora conseguiu fazer com que Taloriel se tornasse mais do que um simples guarda. Aos olhos mais desatentos da corte, o jovem espadachim era quase como um conselheiro pessoal da princesa, um acompanhante fiel, pronto para realizar os desejos e carpichos de sua realeza. Para a família real, porém, os jovens eram amantes e companheiros. Não foi difícil para o rei de Lamar concordar com aqueele romance, assim que viu os olhos apaixonados de sua filha recaírem sobre o amado. Com um pouco de pesar, mas bastante confiante que o futuro de seu reino estaria à salvo nas mãos de tão nobre e corajoso rapaz, o rei e a rainha aprovaram o relacionamento do jovem casal, com somente uma ressalva. Ambos deveriam atingir a idade de vinte e cinco anos, antes que qualquer preparação de casamento ou palavra oficial fosse dado sobre os dois. Eram as tradições do reino, e apesar do povo desconfiar que aquele acompanhante era mais do que um grande amigo da princesa, eles confiavam e esperavam ansiosos por um pronunciamento oficial da família real, no dia em que a princesa completasse sua maioridade.

O cheiro de carne queimada invadiu as narinas de Taloriel, e enquanto sua mente ainda estava recheada de memória do passado, ele não pôde ver o bugbear jogando o corpo da jovem garota no meio da fogueira. Foi então que ele ouviu um barulho ao seu lado direito, e só percebeu a flecha apontada para sua cabeça quando já era tarde demais. Havia mais um bugbear no acampamento. Não três, mas quatro. Um estava servindo de guarda e vasculhava a mata ao redor do acampamento quando notou o jovem eladrin abaixado entre a grama alta.

Jogado no chão duro de terra seca dentro da terceira tenda, ele conseguiu ver de relance o clérigo humano entoando uma resa em um tom de voz quase inaudível. Taloriel teve a impressão de que a fé nas palavras do rapaz era ainda mais fraca do que a força com que ele reclamava os versos da resa. O bugbear que o amarrara teve o cuidado de retirar sua espada e jogou-a sobre uma mesa de madeira no canto da tenda, perto da entrada. Enquanto amarrava os braços do eladrin para trás, num pequeno poste, forçando-o a ficar de joelhos, o bugbear grunhiu algo para o humano. Com sua fraca compreensão, Taloriel só distinguiu as palavras falso deus, inútil e abandonado. Ele conseguiu imaginar qual o sentido total da frase, e se lamentou com o poder que aquelas palavras pareciam ter atingido o rapaz, que agora parara de resar e encarava o bugbear com um olhar de pavor em seu rosto. Antes de sair da tenda, o algoz teve a delicadeza de lançar um forte soco na cara do jovem clérigo, que não fez forçar para se levantar ao atingir o chão com rosto.

Taloriel olhou para o lado, em busca de algo que pudesse usar para escapar dali, e se contentou em perceber que ele e o humano pareciam ser os únicos prisioneiros vivos àquela altura do dia. Ajoelhado no chão, ele não podia ver muito bem por sobre a mesa de canto, mas a quantidade de armas e armaduras parecia ser mais do que o pequeno grupo de bugbears precisariam. Com certeza aquele era o tesouro de vários outros aventureiros que encontraram a morte nas mãos dos saqueadores.

- Ei, você! – Taloriel tentou chamar a atenção do rapaz ensanguentado caído a poucos metros de distância. – Você é um clérigo, não é? Por que você não tenta orar por uma maldição sobre esses bugbears, ou algo assim? – O rapaz pareceu não dar ouvidos, e o jovem eladrin já estava pensando em desistir de ter uma resposta, quando conseguiu distinguir palavras sussurradas entre soluços e lágrimas.

- Meu deus me abandonou, elfo... Eu fui fraco em batalha, e ele me abandonou... Não há nada mais que eu posso fazer, não sem antes pagar uma penitência e pedir o perdão do Deus da Guerra.

Taloriel não possuia muito conhecimento sobre rituais de fé, ou como o clericato agia, mas ele já ouvira falar do Deus da Guerra antes. E para ter perdido seus poderes clericais, o jovem humano deve ter ou se rendido em uma batalha, ou se recusado à lutar. Em ambos os casos, ele não pretendia ficar preso naquela tenda por muito mais tempo. Ele tinah perguntas à fazer ao líder do grupo, e pelos barulhos que vinham do lado de fora, os bugbears não planejavam em ficar por ali por muito mais tempo.

- Olha, garoto... Não me importa se você tem uma dívida com seu deus ou não. Eu não estou planejando ficar para essa festinha bugbear até o anoitecer, então eu gostaria da sua colaboração. – Taloriel conseguiu se concentrar por alguns segundos e sentiu o laço com sua espada fortificado pelo ritual que fizera pela manhã. Foi necessário menos do que a mentalização de ter a arma em suas mãos, e a espada se teletransportou magicamente para elas. Com um movimento rápido e preciso, ele cortou as cordas e se levantou. Ele olhou para o humano, e não parecia que ele fosse de muita ajuda no momento. Fosse a fé abalada, ou a surra que havia tomado dos bugbears, o clérigo parecia não possuir a força de vontade necessária para se levantar. Taloriel se abaixou e rompeu as cordas que o amarravam. – Olha, se você não vai ajudar... Tente pelo menos não ficar no caminho, está bem? – Se dirigindo à saída da tenda, ele ainda teve tempo de sussurrar para o humano: - E eu sou um eladrin, não um elfo... Saiba diferenciar melhor as pessoas no futuro!

Do lado de fora da tenda, o barulho havia cessado. Arriscando uma espiada, Taloriel pôde ver os bugbears entrando na tenda principal. – Ótimo, se vocês se mantiverem juntos, será ainda mais fácil... – Ele deu alguns passos furtivos em direção à entrada da tenda maior e pôde ver os quatro bugbears se aglomerando em volta de uma mesa baixa, feita de madeira. Pareciam discutir qual rota tomar, pois olhavam para um mapa. – Perfeito! – e ele novamente não pôde conter um leve sorriso nos lábios.

Os quatro bugbears não tiveram tempo de perceber o que estava acontecendo. Em um segundo estavam discutindo a presença de um enclave druida pelo caminho que iriam passar, e no segundo seguinte, o eladrin que acabaram de capturar estava se materializando no ar, à frente deles. Taloriel não perdeu tempo, e enquanto caia sobre a mesa, lançou sua espada ao chão, invocando uma das magias que a conexão com sua espada lhe proporcionavam. Em frações de milésimos, do ponto de impacto da lâmina no chão, uma onda circular de magia explodiu, empurrando os bugbears para trás, fazendo com que um deles caísse de mau jeito e deslocasse o pescoço. – Um a menos. – pensou Taloriel, enquanto retirava a lâmina do chão e se corria em direção à outro bugbear, que ainda estava meio desnorteado pelo ataque anterior. Não foi preciso muita força, mas a precisão do eladrin fez com que a lâmina da espada atravessasse a fina armadura de couro do bugbear e atingisse um ponto vital em seu peito. Com mais um desafiante caído, restavam agora o líder, que Taloriel ainda não havia conseguido analisar, e o bugbear que o havia descoberto no meio da floresta. E foi deste último que veio o disparo da flecha que atingiu o ombro do eladrin. Mal ele teve tempo de se virar, para encarar o agressor, e sentiu um imenso impacto lhe atingir as costas, e lhe jogou para fora da tenda.

Um gosto de sangue atingiu sua boca, enquanto Taloriel se levantava e assumia uma posição de defesa contra os agressores, que agora saíam de dentro da tenda. Pela primeira vez Taloriel pôde ver o líder com detalhes, e percebeu que o tamanho avantajado e o imenso martelo de guerra que ele carregava com somente uma mão deveriam ter sido suficientes para amedrontar o jovem clérigo. Repassando rapidamente em sua mente por todas as magias que conhecia, o jovem eladrin se lembrou de um truque que aprendera com um de seus mestres. Se funcionasse, o jovem seria capaz de atingir ambos os adversários com somente um ataque. O problema estava no fato de que para o truque funcionar, ele precisaria lançar a arma em direção ao seus inimigos. Ele recitou rapidamente as breves palavras e desenhou com a mente a trajetória que a arma deveria fazer para atingir ambos os alvos. Sentindo a forte conexão que ele possuia com sua arma, ele lançou a espada, que começou a trajetória de semi-círculo, decapitando o bugbear arqueiro. Quando se aproximou do líder, porém, a arma foi impedida de completar a trajetória, pela defesa que o imenso martelo de guerra proporcionou ao líder bugbear. A espada caiu no chão, com o fim do efeito da magia. Antes que Taloriel pudesse invocar sua arma devolta à suas mãos, o líder bugbear investiu em direção ao eladrin, correndo com o martelo erguido, pronto para esmagar o seu crânio.

Como último recurso, Taloriel gardava uma pequena magia que não necessitava de sua arma para ser realizada. Um pequeno globo de luz, que mais servia para distrair seus inimigos do que para ferí-los. Mas normalmente era o tempo o suficiente para que Taloriel pudesse convocar Kmertz de volta para suas mãos. Ele preparou as mãos em forma de círculo, pronto para lançar a magia, quando uma ponta metálica brotou no meio dos olhos do imenso bugbear, fazendo-os perder o equilíbrio e cair morto à centímetros de distância do eladrin. Quando olhou para o lado, ele viu o jovem humano segurando um arco de estranhos entalhes, com uma cor vermelha intensa.

- Eu não pretendia ficar no caminho, eladrin. Mas também não pretendia não fazer nada...

Taloriel pensou em rir, mas se lembrou que com o líder do grupo morto, as respostas que ele procurava demorariam mais ainda à aparecer. Pegou sua espada e a guardou de volta na bainha em sua cintura. Talvez o mapa indicasse o local para que os bugbears estivessem indo... E talvez lá ele encontrasse alguém que lhe pudesse dizer o paradeiro de um certo druida. E quem sabe esse druida não pudesse ajudá-lo a encontrar a princesa que estava desaparecida... A princesa que não só precisava voltar para seu reino sã e salva, mas que precisava estar viva e inteira, para o bem da própria sanidade do eladrin. Para o bem do seu próprio coração, que não o perdoaria jamais, se algo de ruim acontecesse com o objeto de seu amor.

15 outubro, 2009

Projeto II - Consequência

Ele abriu a caixa e seus lábios não puderam conter um sorriso. Por dentro ele sentia um misto de alegria e medo, pois por mais que desejasse aquele momento, nunca imaginou que de fato o conseguiria. O sorriso nos lábios afrouxou por um momento, e três lágrimas pesadas e salgadas escorreram pelo seu rosto, até tocarem o chão. O calor que sentia em seu peito diversar vezes entrava em conflito com o frio que lhe arrepiava a espinha. Conseguira o que queria, finalmente. Mas à que preço?

Caminhou muitos metros ao longo do pier. Estava amanhecendo, e os primeiros raios de Sol sempre lhe traziam bons sentimentos. Mas dessa vez ele sabia que, por mais forte que o Sol brilhasse e por mais contente que ele estivesse, não havia porquê ter esperanças. Parou de frente para o mar e pensou na noite que passara, e nos atos que acabara de cometer. Muitos não o perdoariam por isso, e com toda a razão.

Abriu a caixa mais uma vez e viu o brilho prateado do conteúdo iluminar sua face. Queria se certificar que estava tudo intácto e pronto para a transferência. Dentro da caixa a pequena esfera de luz flutuava em um estado de inércia, como se esperasse que seu novo dono a aceitasse. Ele fechou a caixa assim que sentiu um novo arrepio lhe correr pela espinha. Respirou fundo e sentiu um cheiro agridoce no ar. Se era sua missão conseguir o conteúdo da caixa, era a função de outra pessoa entregá-lo ao seu destino final. E essa pessoa acabara de chegar.

-
Eu consegui. Foi difícil, mas eu consegui... Está aqui comig...
- Eu sei que você conseguiu
. – disse uma voz áspera, que se aproximava do pier. – Suas ações estão sendo comentadas em todos os lugares. Tem certeza que ninguém te seguiu?
- Não. Provavelmente eles já sabem onde eu estou, e estão se preparando para virem me buscar. Mas não importa mais, eu já tenho o que você me pediu. É melhor você ir andando. Logo eles estarão aqui.
- Você é maluco, sabia disso? – a voz áspera caminha até o fim do pier e pega a caixa. – Tem certeza que não precisa de ajuda? Eu tenho alguns contatos que podem fazer você sumir do mundo, se quiser.
- Não vai ser preciso. Eu já aceitei o meu destino... – ele se abaixa e pega um pouco da areia que o vento maritmo jogou sobre a madeira. – Só me prometa que você vai fazer a sua parte direito.
- Ei! Nós temos um contrato, não temos? – a voz começa a ficar mais distante. – Você fez a sua parte, e agora eu sou obrigado à fazer a minha. Eles chegaram. Faça uma boa viagem, irmão.
- Eu não sou seu irmão! – ele gritou em vão. A voz já havia ido embora, carregando a caixa consigo.

Ele não teve muito tempo para se acalmar da raiva causada pela voz. Quando virou suas costas para o mar, já estava cercado por homens de aparência divina. Vestidos em roupas celestialmente brancas, todos apresentavam feições jovens e puras. Mas ele sabia que isso não dizia nada. Aquele pequeno exército de não mais do que meia dúzia era treinado para enfrentar as mais terríveis bestas e criaturas que nenhum homem comum pode imaginar. Mas ele não era um homem comum. Assim como aqueles que o cercavam agora, ele também era um Celestial. O problema é que ele não merecia mais ser chamado assim. Não depois da noite que se passara e dos atos que cometera.

- Anjo Ethaniel, no começo da noite anterior o Hellion foi invadido. Duas almas desgarradas foram libertas sem o consentimento do Supremo, cinco Querubins foram mortos e um artefato de máxima importância foi roubado de seu local de descanso. – o que falou apresentava uma voz suave porém firme. Seu rosto era limpo e seus olhos eram de um azul tão claro quanto o céu atrás dele. Qualquer poderia sentir a raiva e o desapontamento presente naquele olhar. – Você sabe alguma coisa sobre o ocorrido?
- As almas libertas não são importantes, pois vocês já as recuperaram. – ele abaixou o olhar e sentiu sua garganta queimar, enquanto um peso imenso era posto sobre seu corpo. – O artefato roubado foi a Pedra das Almas.
- Anjo Ethaniel, durante toda a noite o Supremo entrou em debate para descobrir quem seria o responsável por tal ato, e o que o levaria a faze-lo. Chegou-se ao veredito que você foi o responsável por tais atos. Como você se declara?
- Culpado, senhor. E por favor, não me chame mais de Anjo... Eu não sou mais merecedor.
- Pois bem, Ethaniel... Por ordens do Supremo, você é considerado culpado pelo auxílio na fuga de almas desgarradas, pelo roubo de um artefato divino, e pelo assassinato direto de cinco Querubins, tudo isso dentro do território do Hellion. Sua sentença é a morte de seu corpo físico e a detruição total de sua sentelha divina. Por favor, entregue seu brasão agora!

Ele levou a mão dentro da jaqueta e sentiu um rasgo profundo em sua alma. Não soube compreender na hora que aquilo era a fagulha divina deixando sua alma. Muito menos entendeu que o forte ardor que sentiu em suas costas eram suas asas sendo queimadas e se tornando negras e esqueléticas. A dor era tanta que não conseguiu se manter de pé e se pôs de joelhos, de frente ao exército. Quando retirou a mão de dentro da jaqueta, estava segurando um pequeno pingente de prata que foi logo lhe tomado por um dos agentes à sua frente. Outra lágrima escorreu por seu rosto.

- Ethaniel, posso ao menos saber o motivo de tanta insensatez? – perguntou aquele que estava em comando do grupo celestial, e que já havia falado antes.
- Você é um Tronos, Nargiel. Sua sentelha pulsa em busca pela caça, pelo mantimento da ordem. Sua função é destruír e corrigir. – ele levou as mão ao chão, como se tentasse sustentar seu corpo perante o imenso peso que agora desabava sobre suas costas. Seus olhos eram duas lagoas de lágrimas, e sua fala já era mais choro do que palavras. – Você não é um Anjo, Nargiel. Não foi criado para compreender, para proteger, ajudar ou amar. Eu poderia passar a eternidade lhe explicando do porquê de meus atos esta noite. Te falar de como é bom amar e se sentir amado. De como é glorificante se entregar à uma pessoa por inteiro. – o peso sobre seus ombros era quase insuportável, e ele já não compreendia se chorava de dor que sentia em seu corpo físico, ou pelo imenso vazio que sentia dentro de sua alma. – Diabos, eu poderia até te explicar como é ter essa pessoa amada retirada de você por meros caprichos divinos. Eu poderia até mesmo utilizar das palavras mais duras e até utilizar algumas outras proibidas para tentar fazer você entender, Nargiel. – sua voz já se mistura com soluços e lágrimas. – Mas você não entenderia. Você NUNCA entenderia. Nem você, nem ninguém... E é por isso que eu fiz o que fiz. Para ter certeza que, mesmo eu desaparecendo da Existência, aquilo que eu senti não poderá jamais se apagar. É por isso que eu abraço meu destino, Nargiel. Pos com a Pedra das Almas, eu lavo a minha amada de qualquer pecado, e vocês não poderão NUNCA, JAMAIS, encostar um dedo sequer nela! – seus olhos encontram o do líder do exército. Tamanha fúria em seus olhar só é comparada com a imensa paz que os guerreiros podem sentir emanando de sua essência.

Ele abaixou novamente a cabeça, e esperou pelo seu destino final. Talvez, se ele tivesse erguido os olhos, ainda teria visto a cara de espanto ou o nojo de desaprovação que alguns guerreiros apresentavam em seus olhares. Mas ele não veria o olhar de piedade e carinho com que o líder do exército lhe encarava. Não veria pois aquele último olhar seria encoberto por uma fonte de luz intensa que emanava da mão do mesmo líder. E a última coisa que Ethaniel veria seria um imenso raio de luz branca vindo em sua direção. Antes de sentir sua sentelha divina ser reduzida à nada, ele ainda pode buscar por milhares de quilomêtros, um conforto ao sentir que um coração voltara à bater. E suas consciência viveria em paz, ao saber que seu amor vivia novamente. Mas com sua sentelha agora destruída, sua existência era parte do nada e do vazio. Ele nunca mais voltaria a viver novamente.

17 julho, 2008

Projeto I - Infrit: O que são?

- Infrit? - perguntou o garoto, agora mais calmo a observar os pássaros ao longe. - O que significa?
- Significa o que somos. A nossa herança, aquilo que nos define no mundo.
- É francês?

O homem esboçou um sorriso e tragou profundamente seu cigarro. Estava sentado na mesma pedra que o garoto havia estado na noite anterior. Respirou fundo. Aquela seria uma longa manhã, preenchida por perguntas e explicações.

- Não, não é francês, garoto. - ele respirou fundo e deu outra tragada no cigarro. Havia muito tempo que não repetia aquela história para ninguém. Talvez tivesse perdido o jeito, mas estava certo de que não esquecera de nenhum detalhe. - E nem italiano, nem alemão. E nenhuma outra língua que você já tenha ouvido falar, antes que você me pergunte.
- Nem aramaico?
- Nem aram... Porra, garoto! Você não ta prestando atenção? Não é NADA que você já tenha escutado ou ouvido falar. E ao mesmo tempo, fez parte de tudo isso. - outra tragada.
- Agora você está me confundindo...
- Como se a sua cabeça e raciocínio de humano já não fossem confusos o suficientes, não é mesmo?

Ele se levantou da pedra e pegou um pedaço de graveto jogado no chão.
- Agora preste atenção que essa é uma história longa por demais, e você não vai me ouvir repetindo-a muitas vezes.
Começou a rabiscar um círculo na areia. Soprou a fumaça no chão, e o garoto teve a impressão de que o círculo estava girando.
- Como sua mente ainda é muito jovem e pouco desenvolvida, vou tentar explicar isso da forma mais simplificada possível. A muitos e muitos milênios atrás, antes mesmo da primeira forma de escrita ter sido inventada... Oras! Antes mesmo do primeiro ser humano ter rompido a barreira da consciência e deixado de ser um reles animal para se tornar um ser pensante... Antes disso tudo, já existiam os Infrit. - ele apontou para o chão e, dessa vez o garoto achou ter visto várias cores brilhando dentro do círculo - Apesar de viverem em outra realidade, outra dimensão, você vai entender melhor se eu simplesmente explicar que os Infrit viviam em outro planeta.
- Eu sou um E.T.?
- O planeta é uma metáfora, garoto! Os Infrit viviam em um plano de existência que os níveis de consciência dos seres humanos ainda não conseguem imaginar, sequer compreender. E lá eles viviam suas vidas de forma organizada, fazendo seja lá o que eles faziam com suas vidas organizadas. - ele fechou os olhos e inspirou profundamente o ar calmo da manhã. Parou por uns segundos, como se puxasse do fundo da memória lembranças prazerosas, mas à muito esquecidas, ou guardadas.

- Eram seres avançados no uso da magia e suas almas haviam se elevado no mais alto grau de consciência e libertação...
- Eu sempre achei que seres evoluídos utilizassem de tecnologia. Nunca acreditei em magia.
- Não seja tão cético, garoto. A tecnologia é um invento humano. Vocês a inventaram pq não possuem o grau evolutivo de interagir, ou mesmo reconhecer a magia. E os Infrit não a desenvolveram porque não precisavam. Eles possuiam a magia, que os servia tão bem, ou até melhor do que a sua tecnologia...

O garoto observou o desenho no chão novamente, e pôde ver que o círculo apresentava uma semelhança com o planeta Terra.
- E então os humanos apareceram, e os Infrit acharam melhor manter vigia sobre aquelas novas criaturas. E fizeram bem, pois logo eles evoluíram ao nível da consciência, e começaram a construir coisas e a desenvolver idéias. E foi então que eles acharam que deveriam acomopanhar os humanos mais de perto...
- Eles vieram pra Terra?
- Não só vieram, mas ajudaram os humanos a se desenvolverem melhor, e a criarem muito do que existe hoje em dia...
- As pirâmides?
- Não só elas, mas muitas teorias e conceitos que hoje compõem a sociedade humana. A matemática e a ciência são exemplos disso. Mas a política foi invenção puramente humana, que fique bem claro!

O garoto refletiou. Isso mudava muita coisa no mundo, mas ainda não o impactava diretamente.
- E onde eu entro nisso tudo?
- Bem, você pode imaginar que em todos esses anos de convivência, alguns Infrit e humanos geraram filhos. O corpo terreno de um Infrit sofre muitas limitações, mas a geração de descendentes não é uam delas. Você, e eu também, somos resultado dessa mistura.
- Você está dizendo que um dos meus pais... era um Infrit?
O homem desenhou uma linha no chão. E o garoto viu como aquela linha representava o passar de milhões de anos.
- Não, garoto. Seus pais eram humanos normais, e um Infrit não caminha mais pelo solo terrestre à muitos séculos. O que nós somos, é descendentes dos filhos daqueles primeiros Infrit que vieram à Terra. E o que nos difere é o quão diluído está o sangue Infrit em nosso corpo humano. Por exemplo, eu sei que meu sangue é composto de uns 20% Infrit, mas o seu ainda é um mistério. Mas não deve ser mais do que o meu, do contrário meus poderes não teriam sido o suficiente para te dispertar.
- Poderes?

O Sol já estava alto, carregando consigo um ar mais abafado do que a brisa do amanhecer. O homem de terno olhou ao redor, e se levantou.
- Vamos caminhar, garoto. - acendera mais um cigarro, e dessa vez o garoto pôde ver que ele utilizara somente os dedos para isso - Já ficamos parados por muito tempo nesse local.
- E para onde vamos?
- Bom, você precisa de roupas novas, - apontou para as calças do pijama suado e sujo que o garoto usava - e essa história ainda está longe de acabar. Você ainda precisa aprender muito.

16 fevereiro, 2008

Projeto I - Aquele do nascer da Criatura...

Pára. Pára! Eu preciso de ar. Inspira... Expira...

Dor!

Meus pés já estão inchados e minhas pernas parecem que vão se quebrar, resultado das quase 3 horas de corrida. O coração no peito está a ponto de explodir, e cada vez que eu respiro, o ar entra queimando todos os meus órgão internos.

Durante essas 3 horas de corrida, nem por um momento eu parei pra pensar no que estava acontecendo. Teria sido real, ou só mais um sonho maluco? Ultimamente tenho tido muitos desses sonhos. Pessoas olham para mim apavoradas, e sou perseguido por uma criatura que eu nunca vejo. Eu so sinto como se um sentimento de raiva estivesse atrás de mim. E isso me alimenta uma fúria que não me é característica... E todos acabam da mesma forma: o maldito sangue...
Eu nunca fui um cara chegado em violência. Fiz karatê alguns anos, mas era mais por toda a filosofia de auto-defesa do que qualquer outra coisa. E não posso dizer que eu era exatamente um bom aluno... Não aprendi mais do que uma ou duas coisas, e nunca passei da faixa amarela. Uma vergonha para o currículo do professor e da escola, com certeza.
Mas ultimamente esses sonhos têm me acordado no meio da noite. Cada vez mais assustador, cada vez mais real. Já tinha me acostumado à sentir um gosto de sangue na boca, sempre acordava suado. Devia estar mordendo os lábios durante o sono, ou algo assim...

Mas hoje foi diferente. Não era sonho. Não poderia ser. Não com todos aqueles gritos e barulhos.

Estava acampando com alguns amigos. Os nomes não importam mais, estão todos mortos... Eu não pude ver seus corpos, estava em estado de choque! Mas vi o sangue. A mesma cor e cheiro dos meus sonhos.
Eu não acordei de início. Achei que os gritos eram fruto do meu sonho, como das outras centenas de vezes. Foi quando que percebi que não estava dormindo. Estava escuro, só uma lamparina elétrica iluminando dentro da barraca. Eu estava sozinho, e comecei a imaginar que fosse alguma brincadeira de mau gosto dos meus amigos. Antes fosse!
Peguei uma lanterna na mochila e sai pra ver o que estava acontecendo. Nessa hora os gritos haviam cessado. Pararam de fazer barulho logo que eu acordei... Ou melhor: quando eu me dei conta que não estava dormindo mais.

Nós escolhemos um descampado no alto de um morro para montar as barracas. Como fazia muito calor, o vento providenciaria um frescor à mais durante a noite. Somente 3 árvores restavam no topo do morro, parecendo até que haviam-nas deixado ali de propósito. As mesmas 3 árvores que agoram tinham seus troncos todo coberto de vermelho.
Meu cérebro não demorou muito pra raciocinar aquilo como sangue, principalmente com todos aqueles sonhos que eu estava tendo, foi muito fácil identificar o cheiro metálico no ar. No chão, algumas peças de roupas rasgadas e manchadas. As mesmas roupas que meus amigos vestiram na noite anterior para irem dormir, dentro da barraca.

Antes que eu pudesse expressão qualquer reação, eu a senti se aproximando. O mesmo sentimento de raiva que me perseguia em meus sonhos. O mesmo peso no ar, e o mesmo cheiro de sangue. Mas eu não estava sonhando agora. Eu estava acordado, era real.
Não sei se eu já estava correndo quando comecei a chorar, ou se logo que senti ela se aproximando, minhas lágrimas escorreram. Mas agora eu já estava longe muitos e muitos metros do acampamento e não tinha mais forças pra chorar ou correr. E pelo visto, estava perdido...

Quando a dor que vinha com o ato de respirar diminuiu, foi que eu percebi que havia deixado tudo no acampamento. Água, comida, roupas, celular. Não me lembrei de chamar a polícia, ou talvez tivesse lembrado e percebido na hora que eles nunca acreditariam em mim. Eu estava ensopado de suor e lágrimas, e por isso mesmo morria de sede. Tinha um rio à uns 3 minutos de caminhada do acampamento, mas a muito tempo eu já tinha certeza que minha corrida tinha sido na direção oposta. Estava sem meu relógio, mas esperava que não demorasse muito para o sol nascer. Ficar naquela escuridão, só iluminado pelo flash de uma lanterna não era muito confortável. E as pilhas provavelmente eram velhas, o que me daria só mais alguns minutos de luz forte.

Foi só quando eu me sentei numa pedra, para descansar, que notei. O cheiro de sangue não havia desaparecido, e ainda estava forte. Tive medo de que a criatura estivesse por perto, mas não sentia a raiva me perseguindo. Olhei ao redor, provavelmente algum animal morto... Mas foi só quando me vi tentando espantar algumas moscas de perto de mim que percebi que o sangue estava em minhas roupas.

O pânico quase tomou conta de mim, e joguei a camisa do pijama no chão, tentando afastar o maldito cheiro. E o pânico enfim tomou conta quando vi aquele desenho estranho em meu peito. Eu nunca tinha visto aquile desenho antes, nem em meu peito, nem em lugar nenhum. Pareciam duas serpentes entrelaçadas dentro de um círculo, carregando algo em suas bocas que eu não pude identificar. Aquilo me assustou, mas não foi nada comparado ao susto que eu tive quando notei que o desenho estava gravado em minha pele com sangue. Eu tentei limpa meu peito, recolhi algumas folhas no chão e esfreguei. Tentei usar a camisa e cuspe, mas nada funcionou.

Minha cabeça estava à mil, e eu não estava entendendo nada. Foi quando o cheiro de sangue foi sobreposto por outro mais forte. Parecia cheiro de algo queimado, de carvão. Senti minha isão ficar turva e meu estômago embrulhou por um breve momento. Foi só então que me veio à memória as aulas de química no colégio e eu me lembrei do quão forte e nauseante era o cheiro do enxofre.

Levei uma das mãos à boca, mas não foi o suficiente, e o vômito veio quente, rápido e vermelho. Sangue. Em meu vômito. Das duas, uma: ou eu estava com um dos órgãos sangrando, ou...

Não! Não posso nem pensar nisso! É impossível! Havia sim algo me perseguindo! Eu não poderia... Não pode ter sido culpa minha! Eu não posso ter matado meus amigos!

Meus pensamentos não duraram muito. O cheiro de enxofre ficava cada vez mais forte, e eu vomitei vermelho mais uma vez. Sangue. E eu não sentia nenhuma dor interna.

Com tudo aquilo acontecendo, eu não notei quando ele chegou. Foi só quando ele falou, que meu sangue gelou e eu quase desmaiei de medo. Ele não devia ter mais do que uns 40 anos. Estava encostado em uma árvore, brincando com um cigarro entre os dedos, e vestido de forma elegante demais pra quem está no meio do mato. Me disse para me acostumar com o cheiro, que daqui pra frente não seria tão fácil.

Eu não pude reagir ou dizer nada. Parte por estar enjoado, parte por estar congelado pela aparição repentina do homem, e parte pelo estranho sentimento de confiança que ele me passava. Tentei perguntar quem ele era, mas de minha boca só saiu mais vômito. E sangue.

Ele esboçou um riso entre seus lábios finos e acendeu o cigarro. Estranho, não vi nenhum isqueiro em suas mãos, ou sequer uma caixa de fósforos. Me disse para ficar calmo, para não tentar lutar contra o vômito, deixar fluir. Pensei em fluir um soco na cara dele, mas eu não gosto de violência. E os vômitos não me deixavam reagir de outra forma. Depois de uma longa tragada, ele sobrou a fumaça em minha cara, dizendo asneiras sobre o meu corpo estar em uma fase de aceitação e mudanças. Me aconselhou a fechar os olhos e sentir a fúria surgindo. Com toda aquela fumaça, eu vômitei mais algumas vezes. Pensei em vomitar em cima daquele terno que ele usava. Sujar um pouco de vermelho uma roupa que parecia tão cara, e tão incompatível ao local que estávamos.
Balancei a cabeça de leve. De onde estavam vindo aqueles pensamentos de raiva e ódio? Eu nunca fui de alimentar sentimentos ruins. Eu não era assim... Será que era isso que ele queria dizer com "deixar a fúria se libertar"?

Ele se abaixou, tirou um frasco do bolso e jogou um líquido azul no chão. Misturou a lama com o dedo, e quando percebeu que eu estava observando, deu uma piscada de olho pra mim. Senti novamente vontade de pular em cima dele e vomitar cada gota de sangue sobre aqueles cabelos bem penteados e sobre aquele cigarro fedorento. E vomitei. Sobre meus pés, mais uma vez. Ele riu e disse que estava quase acabando, que eu poderia ver o Sol nascer para um novo dia, de uma nova vida.

Pegou um pouco de lama do chão, e antes que eu pudesse me mexer, ele a esfregou na minha testa e no queixo. Senti como se aquilo me queimasse, não na pele, mas no osso, ou na alma. O maldito resmungou alguma coisa sobre o ardor do primeiro dia ser o mais forte e o mais rejuvenecedor. Eu vomitei mais uma vez. Mas pelo menos essa parecia ser a última vez.

Ele se virou para o lado, ao mesmo tempo que os primeiros raios de sol surgiam no horizonte. Deu uma enorme tragada no cigarro e o jogou ao chão, estendendo os braços. Meu enjôo e a fúria haviam diminuído. Eu não estava mais em desespero, ou com vontade de encher o cara de porrada. Ao contrário, estava mais calmo do que jamais estive. Algo em mim me impulsionava à ir receber os raios de sol com meu mais novo amigo. Me posicionei ao seu lado e quando os raios de Sol atingiram meu rosto, eu pude sentir uma alegria incontrolável. Parece que meu amigo também a sentia, pois não conseguia esconder um enorme sorriso cheio de dentes brancos e perfeitos. Algo em meu corpo mudava, parecia ficar mais forte, mais rígido. E eu pude sentir cheiros que não havia sentido antes. O sangue e o enxofre haviam dado lugar para o cheiro da natureza novamente. O ar enchia meus pulmões com fragancias espetaculares. E notei que minha mente também mudava. Parecia que meus raciocínios estavam mais rápidos. Podia identificar cheiros que nem nunca havia sentido, e sabia de quão longe eles haviam vindo. Mas a mudança maior foi em meu espírito. Me senti mais jovem, mais disposto. As 3 horas que havia passado correndo na noite anterior não pareciam mais nada. Eu queria correr o mundo inteiro, queria pular, gritar.

O homem no terno diz, sem ao menos olhar para mim:

- "Bem vindo ao primeiro dia do resto de sua vida, garoto. Vão vir atrás de você. Vão te chamar de monstro, de demônio. Vão querer te destruir, te mostrarão cruzes e símbolos na esperança que você recue. E nada vai funcionar, e nada disso vai importar. Porque você vai querer estar vivo para ver cada vez mais nasceres do Sol iguais à este. Você agora é um Infrit, e eu vou te ensinar tudo que você precisa saber sobre a nossa vida."